VIVA! Viva a Rainha Samara!
Por
Geraldo Fonte Boa
(Observação: este texto será substituído, em breve, por um mais detalhado. Aguarde!!!)
Há três mês atrás nos despedimos de D. Sãozinha, que teve um reinado longevo em nossa cidade. Por isso o ritual de descoroamento de uma rainha em um velório, era tão raro e precisava ser registrado. E nós o fizemos e encontra-se publicado em meu blog. Para acessar, ir este endereço: https://phonteboa.blogspot.com/2023/12/ritual-de-descoroamento-da-rainha.html. Agora, presenciamos a grande festa de coroação da nova Rainha Perpétua de Santa Ifigênia, herdeira do legado da saudosa rainha D. Sãozinha, que deverá levar adiante a missão de realizar a Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário.
E
a nova rainha é Samara Regina Ferreira, neta de D. Sãozinha, filha de João.
Samara foi coroada por D. Sãozinha quando ainda criança para ser uma das
princesas ou mesmo rainha temporária, festeira de Nossa Senhora do Rosário. E agora
foi escolhida entre os congadeiros da Irmandade das Sete Guardas para
substituir o Reinado de sua avó, sendo coroada Rainha Perpétua de Santa Ifigênia.
E sua primeira missão será acompanhar as guardas da irmandade na grande festa de
São Benedito em Aparecida do Norte. Festa que sua avó fazia questão de estar
presente, todos os anos.
Mas
a missão da nova Rainha, vai muito além. Ela tem a missão de comandar os festejos
do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, junto com suas guardas, e com o Rei Congo
Dilermando e sua mãe, a Rainha Conga D. Maria Ana. Aliás, D. Maria Ana, a
Rainha Conga merece aqui nossos aplausos e admiração, pela constante presença e
pelo empenho na realização desta festa. Junto com D. Sãozinha, D. Maria Ana foi
um dos pilares que sustentaram a realização desta festa, e continuará sendo sustentáculo
junto com a Rainha Samara. Desejamos a elas muitas bênçãos nesta missão. Mas
vamos ao ritual de coroação.
O
ritual é longo! Vou deixar, em breve, uma versão completa lá no meu blog, para
quem quiser conhecer os detalhes. Vai aqui uma síntese. Inicia-se com um
cortejo até a Capelinha das Sete Guardas, e após os cantos das guardas de Moçambique
e Candombe em Louvor a Nossa Senhora, o Capitão-mor, Sr. Mário, inicia o ritual,
todo ele também cantado e respondido pela assembleia. Com o verso abaixo, convida
a nova rainha (a ser coroada) a se ajoelhar diante do altar de Nossa Senhora do
Rosário:
Ajoelhai
senhora,
Ajoelhai
diante de
Nossa
Senhora
Ela
é a Rainha divina.
Então, já ajoelhada, dá sequência ao ritual, que
intercala momentos de oração – sempre em voz baixa por parte do capitão-mor – e,
em seguida, um canto que se repete por três vezes e todas elas respondido pela
assembleia. O primeiro é para a coroa e diz assim:
Coroai,
Coroai, Senhora
Coroai,
essa nossa Rainha
Esta
coroa é sagrada
Esta
coroa é divina.
E mesmo ritual para o manto, com o seguinte canto:
Oh!
Recebei Senhor
Oh!
Recebei Senhor
Recebei
o Santo Manto
Ele
é de Nossa Senhora.
Já com o manto e com a coroa canta-se para a nova
rainha se levante, e depois para que ela se vire para a assembleia. E então canta-se para a entrega da insígnia:
Oh!
Recebei Senhor
Oh!
Recebei Senhor
Recebei
esta insígnia
Ele
é de Nossa Senhora.
E
por fim, vem o canto final do ritual de coroação:
Está
coroada, está coroada
Está
coroada a nossa Rainha
Ela
foi coroada
Com
a coroa divina.
Este ritual é encerrado com os tradicionais vivas a
Nossa Senhora do Rosário, ao Rosário de Maria, e Viva a Nossa Rainha e a
assembleia responde com um "Viva!!!" para cada invocação.
Mas o rito continua com a caracterização própria de Santa
Ifigênia, visto ser este o caso. Então, o capitão-mor declama um pequeno poema
contando a história de Santa Ifigênia, e após o poema, canta os seguintes
versos, entregando a Rainha Samara a Casinha de Santa Ifigênia:
Recebei,
Senhora!
Recebei,
Senhora!
Recebei
a casinha de Santa Ifigênia
Recebei,
Senhora!
Canta-se uma série de versos, pelo capitão-mor, sempre
em referência a Santa Ifigênia. E ao término faz-se os “cumprimentos dos
congadeiros” a todos os capitães presentes e também a Rainha coroada. O “cumprimento
dos congadeiros” é o sinal da cruz feito segurando a mão de quem vai se cumprimentar,
e faz o sinal da cruz em um e depois no outro. Este “cumprimento” tem o nome
entre os congadeiros de “Sarava”. Durante o “Sarava” canta-se os versos:
“Virgem
Maria, lá no Céu
Oh!
Pai Nosso que está no céu,
Pois
a Glória seja ao Pai
Oh!
Lá no céu, oh! Pai Eterno”
E com um viva a Santa Ifigênia as caixas do Moçambique,
com suas gungas, patangomes, tocam expressando a alegria de uma nova rainha coroada.
E aí puxam cantos diversos, sendo cada capitão de guarda presente os responsáveis,
tanto para saudação a nova rainha, quanto para agradecimento de se ter coroado.
Após o Moçambique ter feito a sua saudação, o Candombe faz também seus cumprimentos
a Rainha Perpétua de Santa Ifigênia Samara, oferecendo-lhe flores e cânticos. E
após sua apresentação, o Candombe vai saindo, sem virar as costas à nova Rainha
e vai deixando a capelinha. O Moçambique assume suas caixas e também se retiram
da capela acompanhado pela Nova Rainha formando-se um cortejo em direção à casa
de D. Sãozinha, que continua sendo quartel das guardas da Rainha Samara.
Dentro do terreiro coberto, a nova Rainha Samara é
acolhida e cumprimentada por todos. E assim se encerra a grande festa de coroação
da nova Rainha de Santa Ifigênia do Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Itaúna.
Este é o registro para quem não conhece a tradição
deste povo simples, povo de fé, povo congadeiro. Respeitar pressupõe conhecê-los,
e conhecê-los vem da convivência, de frequentar suas festas e suas lutas. Só
assim podemos dizer: Viva Nossa Senhora do Rosário! Viva o Rosário de Maria! Viva
a Rainha Perpétua de Santa Ifigênia Samara Regina! Viva o Reinado de Nossa
Senhora do Rosário de Itaúna! Viva!!!